A contemplação do Bolo

Pois bem... quando falo em contemplação do bolo não é o bolo de aniversário da foto, não. É o famoso bolo aquele que chega sem esperar, sorrateiro, te fazendo sentir a pior das criaturas.
Pois bem... eu vivo levando bolos, infelizmente. Já aprendi a driblar o mal humor pós-bolo que fica no ar e em certas situações já nem me preocupo mais.

Bolos surgem a qualquer hora para qualquer momento ou convite. Já recebi bolos de amigos, de ficantes, namorados e até mesmo da família.

O que faz do bolo essa coisa repugnante é a questão do planejamento pré-bolo, ou melhor, pré-evento. Você está lá com a sua agenda na quarta-feira anotando os planos do final de semana. Como marcou algo com o novo gato na parada para o sábado, deixa o dia inteiro separado para isso. Afinal, tens que tomar um banho, lavar as madeixas, passar hidratante, fazer as unhas, fazer uma chapinha, arrumar o quarto, faxinar a casa, comprar um vinho, lavar a louça, lavar roupa, escolher a roupa (uma das partes mais difíceis e demoradas), se maquiar, achar um sapato que combine com a roupa, escolher um filme na locadora, etc, etc, etc.

OK. Até aí tudo bem. Está tudo devidamente planejado e anotado na sua agenda. Até que o sábado finalmente chega, para a sua alegria (ou não). Começa a função já de manhã, arrumando a casa, limpando cozinha e tudo o mais. Deixa a parte da tarde para cuidar de você, afinal demora para se arrumar e ficar linda para o gato. As amigas ligam querendo marcar mil coisas com você, afinal você é uma pessoa SOLTEIRA e SOCIÁVEL. Você, com dor no coração nega todos os convites pois vai se encontrar com O gato, talvez seu novo namorado ou quem sabe até marido, afinal já está passando da fase de se envolver apenas em relacionamentos curtos e sem futuro. (HÁ)

Aí você vai finalizando a sua reparação, ficando linda, toda maquiada, com o filme já locado, cabelo arrumado, vinho comprado. Aí PIMBA. Chegou em sua vida o tão temido BOLO.
Opa! Mas como asim?! Não tinha encomendado bolo para a sobremesa. Não, amiga. Aqui o bolo é diferente...

As 21h o canalha liga, com uma desculpa esfarrapada dizendo que está chovendo muito e que, como ele não tem carro, fica complicado sair de casa. PORRAS. Como assim? O cara é de açúcar e eu não sabia? Mas que merda mesmo! Não tinha como avisar antes?

Aí surgem aquelas orelhinhas de burro invísiveis sobre a sua cabeça e um nariz vermelho no meio da sua cara. Não pode, é sábado dia de fazer algo pois ficou a semana inteira em casa chupando dedo. Não posso desperdiçar meu sábado dessa maneira. E é nesse momento que você tenta desesperadamente ligar para as suas amigas, aquelas a quem você negou todos os convites anteriormente, para ver se topam fazer algo com você ou simplesmente acompanhar a sua mais nova fossa, afinal isso acabou se tornando algo muito frequente na sua vida.

E o pior acontece: todas já tem novos compromissos e ficam muito tristes por você. A situação agora fica mais desagradável pois além de não ter encontrado companhia para um sábado à noite chuvoso ainda ganhou de brinde um sentimento de pena, de dó de todas as suas amigas por ter acreditado num sacana que a fez perder o dia inteiro.

Aí você começa a se escabelar e as lágrimas aparecem involuntariamente, deixando a sua cara inchada e com uma aparência semelhante à do Bozo. Aí você aceita que perdeu a batalha. Aceita o fato de ficar sozinha em casa bebendo vinho e olhando uma comédia romântica na tv. E é aí que o inesperado acontece. As suas amigas ficaram com tanta pena de você, mas TANTA pena, que acabaram deixando o programa delas de lado para te acompanhar na tristeza e tentar te animar. E é nessa hora que o "bolo-fossa" vira uma "nega-maluca".

Ainda bem que você tem amigas que já passaram por essa situação e sabem o quanto dói você ter investido tanto tempo numa pessoa que não valia a pena. Ainda que o sacana ligou para avisar. E quando eles não ligam, como a gente fica? Fácil: que nem umas abobadas plantadas no sofá esperando o animal entrar em contato. Até que desistimos e resolvemos fazer qualquer outra coisa para não desperdiçar a MEGA produção que tivemos.

Moral da história: Ficantes vem e vão mas as amigas verdadeiras estarão lá para o que der e vier.